quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Livros Infanto-juvenis sobre a Negritude! - Parte III

Os tesouros de Monifa


Escrito por Sonia Rosa – Ilustrado por Rosinha - Ed. Brinque-Book


Muitos poderiam ser os tesouros que uma tataravó poderia deixar para seus descendentes. “Monifa” deixou a sua história, seus pensamentos e reflexões.

Este livro nos mostra o quando as pessoas arrancadas de suas terras e trazidas para serem escravizadas não deixaram escravizar seus pensamentos, seus sonhos, seus valores. A tataraneta, mesmo sendo muito nova, ao receber como presente o baú da tataravó, soube dar valor às histórias vividas que foram escritas ou contadas oralmente passadas de geração em geração.

Talvez esta seja uma das coisas que precisamos recolocar em nossa vida tão corrida: ouvir histórias vividas pelos nossos ancestrais. Com toda certeza, muito aprenderíamos. Lamento muito não ter recebido tal tesouro como a menina protagonista desta história. As ilustrações, cheias de flores em suas páginas, complementam esta narrativa cheia de delicadeza e ensinamentos.

O beijo da palavrinha

Texto: Mia Couto - Ilustrações: Malangatana   Ed. Língua Geral

A história se passa em uma aldeia no interior da África onde há uma família muito pobre que não conhece o mar.
Imagine alguém sentir o mar através da palavra MAR. O que esta palavrinha traz da grandeza do mar? O autor nos mostra que esta palavrinha traz muito desta grandeza e nos faz ver e sentir o mar ao defini-lo através de um momento de cumplicidade, sensibilidade, solidariedade e muita imaginação de dois irmãos.




Cadê?

Texto e Ilustrações: Graça Lima  - Ed. Nova Fronteira

Que criança não gosta de brincar de esconder? Que criança não brinca com a imaginação?
Neste livro, a mãe vai perguntando onde está o filho usando, em alguns momentos, termos carinhosos para se referir a ele como: amorzinho e menininho.
O menino vai andando pela casa e respondendo de acordo com a sua imaginação. Quando ele diz que está embaixo de uma girafa, por exemplo, na página seguinte vemos que ele está embaixo da mesa.
Que nunca percamos a possibilidade de ver além do que se apresenta.



Obax

Texto e ilustrações  de André Neves - Ed. Brinque-Book

Esta história é ambientada em aldeia africana e conta a história de uma menina que vê o que os os outros não conseguem ver e, portanto, não acreditam nela. Onde acaba a imaginação e começa a realidade? O que é verdade para um e mentira para o outro? A menina, com a imaginação de uma criança, senta em uma pedra e se vê dando a volta ao mundo nas costas de um elefante.
Ler esta história fez-me pensar e questionar: "Em que lugar deixamos a nossa capacidade de ver além do que a realidade, muitas vezes dura, nos apresenta?"
Obax, que significa flor, é um nome muito usado na Somália, é o nome da protagonista e desta história florida.
Vencedor do prêmio JABUTI 2011! Parabéns, André Neves!




A menina que bordava bilhetes

Escrito por Lenice Gomes e ilustrado por Ellen Pestili - Ed. Cortez
Um vilarejo, a chegada anual do Parque de Diversões, uma menina chamada Margarida que distribuía muitos versos cantados e bordados para as pessoas do lugar. Pessoas com sensibilidade e disponibilidade para olhar, ouvir e sentir o outro e a si mesmo aproveitando o momento mágico que estão vivendo.
Muitas brincadeiras, versos e cantigas folclóricas aparecem no texto mexendo com a memória de quem brincou na infância convidando-nos a brincar mais e mais.
A ilustração, além das pinturas, traz muitos bordados, fuxicos e coloridos. Esta diversidade aparece também nas personagens.


Neguinho aí

Escrito por Luís Pimentel e ilustrado por Victor Tavares - Ed. Pallas
Quantas e quantas vezes não ouvimos ou até mesmo falamos: " Neguinho isso", "Neguinho aquilo", "Neguinho quer..." Falas já tão costumeiras que muitas vezes nem nos damos conta. Afinal, quem é o "neguinho" que se faz presente nestas falas? Escrito em verso, o livro apresenta as variações para o uso do termo. "Neguinho" pode se referir ao branco, ao negro, ao pobre, ao rico. Pode ser um termo carinhoso ou pode ser pejorativo.
As ilustrações de Victor Tavares trazem uma família negra que foge de imagens estereotipadas. A família vive numa cidade grande com todos os seus contrastes. Há negros e não negros, há pobres e ricos.
O movimento que me parece ser uma caracterísca nas imagens deste ilustrador também está presente nesta obra.
Na última ilustração do livro vemos um avião carregando uma faixa com a frase: "Viva a diversidade". Esta diversidade está impressa no livro através das palavras e das imagens.

O Filho do Vento

Escrito por José Eduardo Agualusa e ilustrado por António Ole - Ed. Língua Geral
Esta é uma história baseada em um conto tradicional africano do povo koi-san.
O filho do vento, que era um menino, se transforma em pássaro que se alimenta das estrelas que foram criadas, por uma bela mulher, ao laçar para o céu as cinzas das sementes de uma planta.
Com palavras que soam como poesia, o conto traz uma versão sobre o surgimento da  lua e  principalmente, o nascimento do amor.
Amor que passa pelo conhecimento do outro, pela observação, pela admiração e por sonhos cultivados.
As ilustrações são feitas em guache sobre papel e aparecem em partes ampliadas, porém parciais. Ao final do livro, as pinturas estão destacadas em miniatura, mas com visão total.

Berimbau mandou te chamar

Organizado por Bia Hetzel e ilustrado por Mariana Massarani - Ed. Manati
Dificilmente alguém ouve o som de um berimbau acompanhado de atabaque e  consegue resistir não parando para dar uma olhada na roda de capoeira. O passo apressado pode perder a pressa ou, pelo menos, diminuir o ritmo só para ver o jogo de corpo e o movimento e/ou ouvir a batida, o ritmo e os versos dos capoeiras.
Neste livro, encontramos versos de cantigas antigas criadas e cantadas em rodas de capoeira. As ilustrações procuram mostrar o movimento e o humor presentes nas cantigas e também a diversidade que podemos encontrar nas  rodas de capoeira.
Ao final do livro, temos um texto que procura contar um pouco da história da capoeira que é um símbolo de luta e resistência da população negra.


O casamento da Princesa

Escrito por Celso Sisto e ilustrado por Simone Matias - Ed. Prumo 
Este livro é uma adaptação de um conto popular africano.
Abena, a princesa, é bela e admirada por muitos. Considerada a "princesa mais bela do mundo". Além disso, seus trajes e adornos são destacados como complementos à sua beleza natural.
A mão da princesa é disputada por dois pretendentes. Os dois se apresentam procurando mostrar suas melhores qualidades, sua força na natureza e importância na vida humana, sem deixar de cuidar da aparência física.
Um se apresenta diretamente a ela e o outro, ao rei, seu pai.
Como decidir?  O coração da princesa quer um, mas ela não se vê no direito de desrespeitar a palavra dada por seu pai ao outro pretendente.
A palavra na tradição africana tem força e não deve ser quebrada. O pai, por sua vez, não impõe sua palavra sobre a da sua filha. Eles se respeitam tanto quanto respeitam a tradição.
O rei, sabiamente, propõe um desafio aos pretendentes. Todos param para ver a disputa pela mão da princesa no dia do casamento.
Quando os tambores começam a tocar iniciando o desafio, as crianças que ouvem o conto, já estão tão dentro da história que já fizeram suas escolhas. Em todas as turmas para as quais já li o livro a reação foi semelhante: elas começam a torcer pelos seus favoritos e vibram com o resultado.
Devo destacar que além da adaptação estar muito bem feita, muito envolvente, a ilustração é belíssima! A ilustradora consegue trazer o texto para a imagem de modo a enriquecê-lo ainda mais. A imagem retrata o movimento presente no texto escrito. As ilustrações trazem também vários elementos de culturas africanas como:  diferentes vestimentas com diversidade de padronagens de tecidos, instrumentos musicais, vasilhames, etc...
Poucas são as histórias onde aparecem princesas negras. Elas contribuem muito para que se quebre a ideia errônea de que só existem princesas com características europeias.

Valentina

Escrito por Márcio Vassallo e Ilustrado por Suppa - Global Editora
Valentina é filha de um rei e de uma rainha, portanto, uma princesa.
Um princesa que é negra, usa óculos e tem orelhas de abano. Tudo dito e ou ilustrado de forma positiva. 
Ela vive em um castelo que é uma casa em um morro. O rei e a rainha são pessoas que descem para o asfalto, diariamente, para trabalhar e tentam proteger a filha das coisas não boas do mundo. Os pais de Valentina desejam o que muitos pais desejam aos seus filhos e que, como Valentina, não entendem o significado de: "ser alguém na vida".
O autor descreve Valentina e o "seu mundo" de forma muito poética e o asfalto de forma mais crítica.
Valentina é amada e bem cuidada pelos pais e tem uma autoestima elevada, portanto vai na contramão do que predomina no imaginário coletivo sobre as relações pais e filhos das pessoas que moram nos morros e favelas.
Quantas "Valentinas" encontramos em nossas salas de aula? Na minha caminhada já tive a felicidade de ver muitas.
Li que Valentina significa: forte, vigorosa, capaz de passar por cima de qualquer obstáculo quando quer realizar algo. Esta personagem não poderia ter outro nome.
O livro é muito rico em detalhes que só quem tem um olhar e uma escuta sensível poderia ser capaz de traduzir em palavras e imagens.
Toda vez que leio este livro fico querendo ler mais sobre a Valentina. Quem sabe um dia o autor não nos presenteia com a continuação de Valentina?

Se quiser ouvir um trecho da história, acesse o site do autor:
http://www.marciovassallo.com.br/
ou acesse o link sobre o livro Valentina:
http://www.marciovassallo.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=51&Itemid=59


Morrendo de rir

Escrito por Luciana Savaget e ilustrado por Maurício Veneza - Ed. Nova Fronteira
A história do livro é baseada no que ocorreu na Tanzânia, em 1962, quando uma "epidemia" de risos tomou conta do lugar. Imagine um colégio onde alunas começam a rir sem parar e em pouco tempo o "surto" de riso se espalha pela cidade. Médicos, cientistas e outros profissionais não conseguem explicar o ocorrido.
Quantas vezes já não vimos alunos rirem sem conseguir parar contagiando outros? Muitas vezes, nem eles sabem o motivo.
A autora faz alusão ao fato histórico e cria situações que poderiam ter ocorrido ou não, e aproveita também para adicionar personagens reais e atuais como Osama Bin Laden e Ronaldinho.
Até o Brasil, com a alegria mundialmente relacionada ao seu povo foi parar nesta história contada neste livro.
Em dias de tantas notícias tristes, como o que estamos vendo e vivendo no Rio de Janeiro, Niterói e outras cidades do estado do RJ, entre outros acontecimentos pelo mundo afora, ouvir uma história de riso, pode ser muito valioso e quem sabe um pouco contagioso para aliviar as tensões.

Se quiser saber um pouco mais sobre o fato, veja  o artigo no site da Revista SuperInteressante:
http://super.abril.com.br/ciencia/rir-melhor-remedio-442631.shtml

O menino Nito: então, homem chora ou não?

Escrito por Sonia Rosa e ilustrado por Victor Tavares - Ed. Pallas
Então, homem chora ou não? Esta pergunta que faz parte do título do livro ainda é uma questão que se discute em nossa sociedade. Por que o homem não teria direito de chorar?
Nito é um menino bonito. Tem uma característica considerada um problemão: chora muito. O pai lhe diz que não deve chorar porque é macho. O menino entende e passa a seguir o que o pai diz, mas  novos problemas começam a surgir como consequencias dos choros não chorados.
A autora trata o assunto com um certo humor e muita sensibilidade.
As crianças costumam gostar muito desta história e os meninos ficam muito atentos. Conversar com as crianças, antes ou depois desta leitura, nos ajuda a ver muitos dos preconceitos que eles já assimilaram sobre o tema. Para muitos, esta história pode ajudar a repensar sobre as frases que ouviram de adultos machistas e que reproduzem.
Esta história também pode ser encontrada na série "Livros Animados" do Canal Futura e que se encontra no DVDescola enviado pelo MEC a várias escolas públicas.
É interessante ler o livro e depois assistir pela TV.
 

Menina Bonita do Laço de Fita

Escrita por Ana Maria Machado e ilustrada por Claudius - Ed. Ática
Este é, sem dúvida alguma, o livro mais conhecido quando se fala em personagens negros na literatura infantil. Uma das obras mais premiadas da autora. 
     A história apresenta uma menina negra, bonita e um coelho branco que sonha em ter a sua negritude.
     Quem quiser conferir no site* da autora verá que a história surgiu para a filha dela que era muito branquinha, mas que ao produzir o livro utilizando uma situação que acontecia em casa, a autora optou por colocar a personagem negra assemelhando-a mais à realidade da população brasileira.

     Esta história também é encontrada no programa "Livros Animados" do Canal Futura. As escolas que receberam o DVDescola, possuem esta animação. A leitura do livro é um sucesso garantido. Se além da leitura, também virem a animação o sucesso fica mais garantido ainda. Vale conferir.

*http://www.anamariamachado.com/historia/menina-bonita-do-laco-de-fita

Luana, a menina que viu o Brasil neném

Escrita por Aroldo Macedo e Oswaldo Faustino e ilustrada por Arthur Garcia - Ed.FTD
Luana, menina capoeira, através da magia do som de seu berimbau, viaja no tempo e presencia a chegada de Cabral às terras brasileiras e o primeiro contato com os índios. A menina vê Caminha escrevendo a carta ao rei sobre as novas terras.
A narrativa conta também sobre os quilombos e a tradição oral de contar as histórias de lutas e conquistas do povo para que não sejam esquecidas.
Há versos cantados em rodas de capoeira e imagens de instrumentos e movimentos deste jogo, esporte, luta e arte da cultura negra.
Já tive a experiência de ler esta história em capítulos para os alunos. Foi um sucesso!
Para os que gostam de livros que possibilitem discussões ou desenvolvimento de algum projeto ligado a datas de momentos históricos, este livro é uma sugestão para os meses de abril e maio.
 

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